Em 27 de março é comemorado o aniversário da cidade de Mairiporã. Seu nome já indica sua beleza: numa tradução literal, o termo é oriundo do tupi-guarani e significa “água bonita do Maíra” (maíra: entidade mitológica tupi relacionada aos franceses; “y”: água; e “porang”: beleza).
Imagem 1 - Paróquia Nossa Senhora do Desterro
Localizada na Zona Norte da Grande São Paulo, Mairiporã tem uma população estimada em 101.937 habitantes numa área de 320.697 Km². Por ela passa a rodovia Fernão Dias.
Mairiporã tem dois centros importantes: o centro da cidade e Terra Preta. A região da Serra da Cantareira também é um ponto importante, sendo o local dos principais loteamentos da região - sem contar que ela foi reconhecida pela ONU como Patrimônio da Humanidade (Educação, Ciência e Cultura).
História
Inicialmente chamada de Juqueri (planta leguminosa conhecida como dormideira), o povoado surgiu aproximadamente entre o fim do século XVI e início do século XVII, formado a partir da capela Nossa Senhora do Desterro, erguida por Antônio De Souza Del Mundo, tendo sida elevada à categoria de Vila Nossa Senhora do Desterro de Juqueri em 1696. Em 1793, a região tornou-se paróquia, com a capela tendo sido transformada em igreja.
A futura cidade seguiu os caminhos típicos das áreas próximas da Vila de São Paulo durante o período colonial: servia para proteção e apoio das rotas de ligação com o interior. Depois iniciou a produção de algodão e vinho para exportação, principalmente para São Paulo, mas tais produções não prosperaram. A região, então, ficou relacionada com o pouso dos tropeiros para as Geraes (área de mineração de ouro e outras pedras preciosas).
Em 1769 é inaugurada uma estrada ligando diretamente São Paulo com Juqueri, o “Caminho do Juqueri” (atual Estrada Velha Bragança), promovendo um relativo crescimento econômico na região.
A administração de Juqueri estaria ligada diretamente à Vila de São Paulo como Distrito da Capital (1881 a 1888) e, depois, à de Nossa Senhora da Conceição de Guarulhos (1881 a 1888). Pela Lei Provincial 67, de 27 de março de 1889, Juqueri passou a ser município.
Em 18 de maio de 1898 foi inaugurado o Hospital-Colônia de Juqueri, dirigido pelo médico Franco da Rocha, dentro da área do município (Franco da Rocha foi elevado a distrito de Mairiporã em 1934 e tornou-se cidade autônoma em 1944). A ligação do hospital com o município, proporcionado principalmente pela confusão na entrega das correspondências e pela fama muito negativa que o hospital, infelizmente, iria carregar por sua existência, estimulou um movimento para a mudança do nome da cidade, ocorrida em 24 de dezembro de 1948, através da Lei Estadual Nª 233.
O nome Mairiporã foi sugerido pelo jornalista e poeta Araújo Jorge.
A imigração japonesa na cidade também é um capítulo importante de sua história: as primeiras 10 famílias chegaram na cidade em 1913, liderados por Chôju Akimura, o que estimulou a produção agrícola local.
A construção da Represa Paulo de Paiva Castro é um marco importante para a cidade. Mairiporã tinha muitas olarias (cerca de 300), sendo que a sua produção de tijolos era muito conhecida. A cidade também tinha uma produção artesanal de instrumentos musicais. Ambas as atividades foram encerradas pelos alagamentos necessários para a construção da represa.
A atual Barragem Sete Quedas de Mairiporã serve apenas como degrau para as águas poderem passar pelo desnível do terreno. Não possui comportas, mas formou um pequeno lago no local.
Imagem 2 – Barragem Sete Quedas de Mairiporã | Foto: J.R. Cortez
A implantação da Rodovia Fernão Dias também afetaria a cidade: ocorreria um “boom” imobiliário, nas décadas de 70 e 80 do século XX, ocasionado pela procura de casas e terrenos secundários (para o lazer), inicialmente, e para moradias definitivas, depois.
Cultura
Mairiporã sempre apresentou um universo cultural muito significativo.
Um dos membros da sociedade que mais estimularam a cultura foi o padre José Lélio Mendes Ferreira, figura ilustre e ainda lembrada na cidade. Sempre com muito bom humor e iniciativa, ele estimulou várias atividades culturais na cidade, como a criação da estação de rádio O Caminho FM.
O falecido monsenhor Lélio (em 1º de junho de 2011) deixou um legado cultural e religioso para a cidade: ele elaborou um Roteiro Religioso, com mais de 30 locais para visitação turística, do centro à zona rural, incluindo igrejas, capelas e monumentos.
Imagem 3 - Padre Lélio
E Mairiporã, na década de 50, quase se tornou a “Hollywood Brasileira”.
O italiano Mario Civelli fundou a Multifilmes S.A. e montou uma indústria cinematográfica na cidade, com estúdios para filmagens e laboratórios especializados para a produção cinematográfica. E um dos filmes produzidos por Civelli, filmado em Mairiporã (com algumas locações realizadas na cidade de São Paulo), entrou para a História do cinema nacional: Destino em Apuros, de 1953, foi o primeiro filme nacional colorido.
Imagem 4 – Destino em Apuros: o primeiro filme colorido brasileiro (1953)
Dirigido por Ernesto Remani, tinha no elenco Paulo Autran, Hélio Souto, Paulo Goulart, Aracy Cardoso, entre outros (ainda desconhecidos pelo grande público, mas que logo iriam se transformar em artistas famosos no futuro). O filme também marcou uma despedida cultural importante: foi o último filme que reuniu a dupla Oscarito e Grande Otelo, nomes fundamentais da Chanchada brasileira.
Os custos da obra e seu relativo fracasso comercial nas bilheterias ajudariam a falir a empresa alguns anos depois.
Imagem 5 – O que restou da Multifilmes SA e seu Fundador - Mario Civelli
Colaboração:
Prof. Dr. Orivaldo Leme Biagi
Doutor em História pela Universidade Estadual de Campinas e Pós-Doutorado pela Universidade de São Paulo. Professor dos cursos de Graduação e Pós-graduação do Centro Universitário UNIFAAT.
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Referências das Imagens:
Imagem 1: https://www.imudou.com.br/blog/mercado-imobiliario/viver-e-morar-em-mairipora-sp.html
Imagem 2: https://jrcortezfotografia.com.br/blog-do-joao/exploracao-mairipora-sp-UBF6705/
Imagem 3: https://jornaldebraganca.com.br/noticia/1604/roteiro-religioso-idealizado-por-monsenhor-lelio-e-entregue-a-prefeitura
Imagem 4: https://retronostalgico.blogspot.com/2017/04/destino-em-apuros-o-primeiro-filme.html
Imagem 5: https://www.mairiporaregional.com/arquivo-mairipor%C3%A3/multifilmes-mairipor%C3%A3-ber%C3%A7o-do-cinema-brasileiro
Olá, deixe seu comentário para Mairiporã: a beleza não está apenas no seu nome
Daniela Araújo
Contém várias informações que eu desconhecia
Armando Aparecido de Campos Filho
Agradecemos o reconhecimento.